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Circo da Lama

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

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Circo da Lama

15
Jun14

7700: dar os pontos aos ii

Bruno Vieira Amaral

Itália e Inglaterra proporcionaram, no dizer dos entendidos, um excelente espectáculo de futebol. Pergunto-me: quando é que viraram o mundo do avesso? Por razões estéticas e pragmáticas, a Itália nunca se preocupou em proporcionar excelentes espectáculos de futebol. A cada Mundial, há uma mão-cheia de equipas que diligentemente se entregam a essa missão, embora costumem cair, com toda a espectacularidade, por volta dos quartos-de-final, o mais tardar. Quanto à Inglaterra, mais do que a produzir excelentes espectáculos de futebol, é uma nação destinada a sofrê-los. Aliás, as participações dos ingleses em campeonatos do mundo e da Europa inserem-se na categoria de entretenimento. E no entanto, neste ano da graça de 2014, Itália e Inglaterra proporcionaram mesmo um excelente espectáculo de futebol. Nos dias que correm, são duas das selecções mais simpáticas e amáveis (no sentido em que se oferecem ao amor alheio) do mundo. Dos respectivos bancos, os jogadores recebem emanações positivas: Cesare Prandelli, ar de galã florentino de trattoria, não é um estóico defensor da fealdade futebolística que sempre caracterizou a Bella Italia. Roy Hogdson, professor prudente, também não quer que a selecção inglesa seja apenas um conjunto rupestre de figuras secundárias do seu próprio campeonato. Com ele, o velho kick and rush é matéria museológica. Sábio, percebeu que a maneira mais rápida de se construir uma verdadeira equipa nestas condições é aproveitar uma base pré-existente, neste caso, a base do Liverpool de Brendan Rodgers, ontem à noite transplantada para a Amazónia. Prandelli também beneficia de uma espinha dorsal prêt-a-porter: a da Juventus tricampeã de Itália e, não se esqueçam, eliminada pelo Benfica nas meias-finais da estupenda Liga Europa. Mas, além destas paticularidades, o centro de um jogo emocionante será sempre a capacidade dos jogadores em campo. E ontem, a mais comovente foi a capacidade de Raheem Sterling para a alegria. A certa altura, já cansado, fintou Marchisio a passo numa área de terreno que daria à justa para erguer um poste de iluminação. E as recepções? Na minha modesta opinião, a qualidade de um jogador mede-se de forma bastante fiável pela qualidade das recepções, e por isso afirmo que Sterling é um génio. Não apenas um louco furioso e veloz como Theo Walcott ou Aaron Lennon, que confundem relvado com pista de tartan, mas um génio capaz de ajoelhar adversários em tocas de coelho. Mesmo quando arriscou mais uma finta, um remate improvável, Sterling não o fez por egoísmo, mas inspirado pela alegria pura dos seus dezanove anos. Para esta nova Inglaterra, contribui também a feliz ausência de mastodontes como Ferdinand e Terry. Assim, em vez de uma colecção de cromos afectada pelo spleen de fim de época e parasitada pelas oxigenadas e penumáticas wags, temos um organismo vivo e enérgico. A Itália é outra coisa. É um corpo ligado a Pirlo, como certos corpos estão ligados à máquina. Se não estou em erro, a máquina de efectuar passes que é Pirlo errou dois em todo o jogo. Quando nos lembramos do número de passes que o homem falha é porque na sinfonia pirliana um passe falhado é uma nota em falso: dá-se logo por ela. Claro que toda a equipa italiana impressiona porque todos os jogadores sabem o que estão a fazer em campo. O que, tendo em conta que Balotelli é um deles, é um feito de proporções shakespearianas. Quando tudo acabou, ficou a amargura de um jogo como estes não se poder decidir através da nota artística: três pontos para Itália, três pontos para Inglaterra e flores para Sterling e Pirlo.

 

Notas:

- Uruguai – Costa Rica: em dez minutos que vi do jogo, assisti a duas entradas que terei de classificar de “uruguaias”, não por terem sido perpetradas por uruguaios mas por serem “uruguaias”. Do lado de lá da linha lateral, o impecável professor Tabárez, perfil de cantor de milongas em amenas noites portenãs, deve-se ter sentido insultado por tamanha brutalidade.

 

- Campbell: o campeonato do mundo foi inventado para assistirmos à explosão destas figuras vindas do nada (atenção, o nada a que me refiro está povoado de olheiros do Arsenal, Carlos Daniel e Luís Freitas Lobo).

 

- Colômbia – Grécia: finalmente percebe-se a frase de Jesus: quem não gostaria de pegar em três jogadores banais e ordenar-lhes que se transformassem num Cuadrado?

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