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Circo da Lama

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

Circo da Lama

11
Mar09

À la campagne

Bruno Vieira Amaral

Vivemos tempos de campanhas. Longe vai a gloriosa época das cabalas. A cabala foi um fruto mediático característico dos anos 90. Todos os dias alguém se dizia atingido por uma, como se já não fosse possível andar na rua sem o risco de nos cair uma cabala na pinha. E nós imaginávamos rituais iniciáticos, cânticos satânicos, beijos negros. Houve até um dirigente desportivo que fundou um sincretismo judaico-animista e falava com toda a seriedade de "cambalas" (talvez se deva escrever "Kamba-lá", que também serve para dar nome a uma discoteca africana). O certo é que a cabala foi perdendo prestígio e ainda não se encontrara um substituto à altura. A urdidura lembrava curativos de província, urze envolta em ligaduras para atar no tornozelo ou pendurar atrás da porta para afastar o mau-olhado. Maquinação feria com a sua profusão de engrenagens ou, pior ainda, com a sua trepidação metalúrgica. E assim fomos salvos pela campanha. O termo é do agrado de políticos e marqueteiros: campanhas eleitorais e campanhas publicitárias são o ganha-pão de ambos, e a diferença entre umas e outras é que os produtos que estas vendem são, normalmente, mais fiáveis. A campanha é sempre orquestrada por poderes ocultos e é assim que deve ser. A vítima deve manter o suspense enquanto puder. A campanha é negra (evite os tons neutros e as transparências) e de origem incerta. Isso faz com que o público (ou os eleitores) desconfie de toda a gente, chegando mesmo a perguntar-se se ele próprio não estará involuntariamente envolvido na campanha. Já se sabe que quando é obrigada a revelar nomes, a vítima provoca sempre um anti-clímax: o público está à espera de uma conspiração de banqueiros, da Maçonaria, da Opus Dei, da Confraria do Vinho do Porto e sai-lhe o José Manuel Fernandes e a Manuela Moura Guedes. Uma desilusão, a menos que a estas horas o director do Público esteja no seu escritório a afagar um gato e com um sorriso maléfico de imperador Ming. Se há coisas a que o português médio, a exemplo do médio português Miguel Veloso, tem direito, a campanha é uma delas. Convém conhecer as regras do jogo.

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