Publicado originalmente no cachimbo.
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Publicado originalmente no cachimbo.
Diz a sabedoria popular, embora os bolsos depauperados não comprovem a teoria, que o dinheiro não traz felicidade. É verdade. Veja-se o meu caso: com o meu ordenado nem sequer consigo arranjar uma depressão decente. Limito-me a andar mal-humorado, como se a minha alma tivesse batido em retirada para o meu estômago e, em vez de uma úlcera, apenas merecesse uma azia crónica. Mas há situações piores, em que o dinheiro, não trazendo felicidade, ainda se encarrega de semear discórdias e de terminar namoros prometedores no concelho de Barcelos.
Luís e Cristina namoravam e faziam as coisas que os namorados normalmente fazem: carícias furtivas na sala de jantar, bicas no café Brandão e duas apostas simples no euromilhões. Sucedeu que foram premiados. 15 milhões de euros. E é a partir daqui que se manifesta o poder desagregador do dinheiro. Ainda tiveram tempo de abrir uma conta em nome dos quatro: Luís, Cristina e os pais desta. Foi então que o bom Luís, na ingenuidade dos seus 22 anos, quis presentear os seus pais e irmãos. Os futuros sogros não participaram da generosidade eufórica do rapaz e fizeram-lhe ver que teria alguma dificuldade em movimentar a conta sem a concordância deles. Acabou-se a paz. O que tinha tudo para ser uma próspera união (a que só os anos e uma eventual sacholada poderiam pôr fim) acabou em tribunal. Às juras de amor eterno sobrepôs-se a providência cautelar; ao tálamo ansiado, a certeza da sala de audiências. O dinheiro, qual Deus cruel, lá permanece na conta, indiferente às desavenças de duas famílias minhotas. “Entretanto, todos vão vivendo da lavoura[...].”
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