Ensaio sobre a domesticação do jogador benfiquista
O benfiquista anseia por espectáculo mas desconfia dos artistas. Quando a grande vedeta chega à Portela, o benfiquista aplaude mas no seu íntimo sabe que aquela chegada deve-se em partes iguais à venda de pneus, a Rui Costa e a um menisco em mau estado. O meu amigo Henrique confessa-me que não acredita em di Maria. Louva-lhe a qualidade mas acha que quando chegar o Inverno, a chuva e a lama o di Maria terá a utilidade do cabeleireiro pessoal do Pierluigi Collina. Isto é, enquanto o Benfica jogar às 3 da tarde no Estádio da Luz, debaixo de um amigável sol de Outono, o di Maria será um génio. Quando o Benfica visitar o Paços de Ferreira e a Mata Real servir para pouco mais do que a reconstituição histórica da batalha de La Lys, di Maria, como os outros artistas, estarão perdidos.
Ao longo dos anos, criou-se a ideia de que os jogadores do Benfica são almas sensíveis, onze Tamagninis Nenés, com horror ao contacto físico e a qualquer sugestão de movimento que tenha como único objectivo a recuperação da bola. Obviamente a antítese é o Porto, o único clube do mundo onde um jogador como o Deco é ensinado a pensar como o Petit. Imaginem o que teria sido o Petit no Porto: um quadro de Bosch com adversários ceifados e perónios desfeitos. No Benfica, pelo contrário, o Petit estava tão domesticado que chegou a marcar um golo digno de Zidane (Benfica-PSG, oitavos-de-final da Taça Uefa 2006/2007).
O problema, caro Henrique, não é o di Maria ser o que é. O problema é o Benfica não melhorar os jogadores que tem. Quando o Luisão chegou era agressivo e cheio de atitude. Agora, anda ali, tão inofensivo como um juvenil. O Benfica amarica os jogadores. Se o Lisandro tivesse vindo para o Benfica a estas horas também estaria no Lyon. Mas antes disso teria sido dispensado pelo Benfica ao Rosário Independiente de Bogotá, onde demonstraria a sua enorme qualidade e seria contratado pelo Lyon.