Zapping
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Cortázar, que já morreu e ainda bem, porque estes argentinos são tão bons que um gajo fica deprimido, escreveu coisas destas e eu penso em dedicar-me de imediato à fruticultura (o meu avô tinha uma horta onde plantava quiabos e colhia beldroegas que cresciam espontaneamente nas margens de um regato, e tínhamos um cão cujo nome, Lord, disfarçava mal as origens rafeiras) ou em nunca mais escrever uma linha que seja: “todo o conto é o modo como se conta, a consciência de que conteúdo e forma não são duas coisas diversas entre si é aquilo que faz o bom narrador oral, que neste caso não se diferencia do bom escritor, ainda que preconceitos e editores estejam do lado deste último.” Borges, Cortázar, Maradona, Riquelme (que escritor é o Riquelme!), Aimar, Saviola, Ortega, Juan Martin del Potro, caramba, é óbvio que a Argentina teria de ser o primeiro país da América Latina a aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo (se não é verdade…).
O Homem é um estrangeiro, um estranho. “Num universo subitamente privado de ilusões e de luzes” o Homem só se pode sentir estrangeiro. Mas ao contrário do exilado e do refugiado, o Homem tem de viver sem o consolo “de uma pátria perdida” e sem “a esperança de uma terra prometida”. Nem Ulisses, nem Judeu. O Homem já nasce longe de casa. E a casa nem sequer existe. Vale a pena viver esta vida? No ensaio O Mito de Sísifo, Albert Camus defendia que esta era a pergunta a que tínhamos de responder e o suicídio o único problema filosófico verdadeiramente importante. Ainda hoje há muitos que consideram que a obra de Camus apresenta o suicídio como a única saída para o Homem cercado de desespero por todos os lados. Para contrariar esta ideia basta ler o final do romance A Peste. Ou examinar com mais atenção a vida de Camus. O seu percurso foi invulgar. Nascido na Argélia, pied-noir, como eram depreciativamente chamados os franceses nascidos naquela colónia, Camus foi para a metrópole em 1941. A tuberculose impedira-o de prosseguir a carreira docente e Camus iniciou a carreira no jornalismo. Colaborou com a Resistência e foi redactor principal do jornal clandestino Combat, um dos mais importantes títulos da imprensa francesa durante a ocupação alemã. Quando ocorreu a libertação, em 1944, Camus já conquistara o seu espaço na literatura francesa. Dois anos antes publicara o romance O Estrangeiro e O Mito de Sísifo, que lhe valeram a atenção da crítica e a admiração, embora com reservas, de Jean-Paul Sartre. A amizade entre os dois gigantes terminaria anos mais tarde. Em 1951, Albert Camus publicou o ensaio O Homem Revoltado. O livro continha críticas ao Marxismo e ao modelo soviético e foi demolido numa recensão publicada na revista Les Temps Modernes, dirigida por Sartre. O que era uma manifestação do profundo humanismo de Camus contra todas as formas de opressão foi entendido pela esquerda como uma traição. As trincheiras ideológicas estavam demasiado cerradas para que uma “terceira via” fosse aceite sem turbulência. Para Camus, o homem absurdo tinha de aprender a viver sem as muletas de Deus ou do Partido. A sua vida e a sua obra são um testemunho a favor da esperança contra todas as evidências. Num mundo sem sentido, cheio de dor e de desespero, o homem deve exprimir a sua revolta positiva. “É preciso que nos ajudemos uns aos outros”, diz uma das personagens de A Peste. No final do romance, há uma frase que serve de fundamento ao humanismo ateu de Camus: “há nos homens mais coisas a admirar que coisas a desprezar.” A 4 de Janeiro de 1959, dois anos após ter recebido o Prémio Nobel, Albert Camus morreu num acidente de viação. Tinha 46 anos. Nascera no exílio, “entre a miséria e o sol.” Como todos os homens.
Sweet smell of success – Alexander Mackendrick
O beco dos milagres – Naguib Mahfouz
Publicado no i
Este blog comemora hoje o seu primeiro aniversário, ou seja, está bem lançado para durar mais do que o meu casamento. Reservei mesa no Tavares mas estou em crer que vamos acabar os dois, eu e o blog, a comer umas bifanas naquela roulotte ali para os lados de Coina. Ofereci-lhe 4 dvds: Patton (o George C. Scott , o George C. Scott), O Padrinho III (o Al Pacino, o Al Pacino), O Último Rei da Escócia (o Forest Whitaker, o Forest Whitaker) e Rocky (Filadélfia, Filadélfia). Agora vou assistir a mais um episódio da lenta decomposição do treinador anteriormente conhecido como Quique Flores.
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