Paulo Bento – à excepção de uma ligeira evolução na estética capilar, Paulo Bento não evoluiu muito. Agarrou-se aos mesmos jogadores que já nos tinham dado as meias-finais do Euro 2012 e seguiu à risca a máxima “em equipa que (quase) ganha não se mexe” esquecendo que a não renovação do onze daria um resultado mais próximo de “a equipa que ganhava já (quase) não se mexe.” Iremos sofrer a sua gratidão nos próximos dois anos.
Rui Patrício – demonstrou, proficientemente, no único jogo que disputou que está para a hierarquia dos guarda-redes mundiais como a irmã de Cristiano Ronaldo está para as divas da música. Courtois, Navas, Lloris, Ochoa e até o geriátrico Buffon fazem parte de uma galáxia que Patrício só pode contemplar à distância.
João Pereira – os raros defensores de João Pereira só têm um argumento a seu favor: “quem é que punhas no lugar dele?” A resposta é evidente: o rato Mickey.
Bruno Alves – de repente, parece uma peça obsoleta. Olhamos para o outrora indestrutível Alves e vemos Schwarzenegger em O Exterminador Implacável 2, ultrapassado por modelos mais recentes mas ainda capaz de bater.
Pepe – foi expulso por um daqueles momentos Pepe que o celebrizaram como o mais lunático de todos os defesas-centrais da actualidade. Regressou contra o Gana e não só fez uma exibição razoável como susteve os ímpetos de Bruno Alves, deixando claro a quem é que foi ministrada a dose de calmantes antes do jogo.
Fábio Coentrão – foi o menos mau contra a Alemanha, lesionou-se e regressou imediatamente a Portugal. Estatuto intacto.
André Almeida – o pino de luxo da nossa selecção. É preciso um lateral-esquerdo? Chama o Almeida. Um lateral-direito? Chama o Almeida. Um trinco? Chama o Almeida. Mais um gajo para a barreira? O Almeida não pode, está lesionado. No Benfica e na selecção, é o exemplo acabado de flexigurança. Para o ano deverá jogar no Maccabi Haifa ou num clube búlgaro.
Ricardo Costa – por incrível que pareça, este foi o terceiro mundial para Ricardo Costa, que, a par dos 200 quilos de bacalhau e das 50 toneladas de azeite, já se tornou uma presença obrigatória nestes eventos, com a vantagem em relação aos víveres de poder alinhar a defesa esquerdo.
Luís Neto – cumpriu a impressionante soma de zero minutos distribuídos harmoniosamente por três jogos. Foi uma das vítimas da gratidão de Bento.
Miguel Veloso – a não ser por causa da novela com o pai e do casamento com a filha do presidente do Perugia ou da Reggiana, os portugueses tinham perdido o rasto a Miguel Veloso. A excepção, claro, foi Paulo Bento que, logo que acabaram as buscas pelo avião da Malásia, contratou as equipas para encontrarem Veloso nas estepes russas.
Raul Meireles – este ícone da moda, de abundantes tatuagens, destacou-se neste mundial por ter levado uma cotovelada de um americano e por ter ficado, em consequência disso, a afagar, durante largos minutos e com um certo vagar otomano, as suas magníficas barbas.
João Moutinho – depois de uma época desastrada ao serviço do Mónaco, que lhe valeu a distinção de flop da temporada, o pior que podia acontecer ao enérgico Moutinho era jogar ao lado de dois tractores. Assim que lhe ofereceram dois seres humanos capazes de pensar e correr ao mesmo tempo, o rendimento de Moutinho melhorou.
Nani – no início do campeonato, ainda me perguntei ingenuamente se seria este o torneio de Nani. Depois de três jogos, recepções de bola dignas de um pedreiro, um golo inexplicável e recomendações brutais aos colegas, ficou a certeza que não.
Helder Postiga, Hugo Almeida e Éder – para demonstrarmos a nossa incapacidade em produzirmos um ponta-de-lança de jeito podíamos ter escolhido qualquer um destes jogadores. Ter seleccionado os três equivale a uma declaração de guerra contra o próprio conceito de avançado e, lateralmente, contra a ideia de marcar golos.
Cristiano Ronaldo – Antes do jogo com a Alemanha declarou estar com sensações místicas que lhe diziam que este seria o ano de Portugal. Depois do jogo com os EUA o tom já era mais realista e, apesar de ainda não estarmos eliminados, Ronaldo disse que nunca sonhou ser campeão do mundo, que tínhamos uma equipa muito limitada e que havia selecções mais fortes. Tudo verdade, mas ficámos sem saber se um quarto jogo de Portugal implicaria um quarto penteado em terras brasileiras. No fim, o Bola de Ouro regressa a casa com vários recordes (jogador português com mais jogos em mundiais, único a marcar em três campeonatos e, desde 2004, sempre a marcar pelo menos um golo em fases finais de grandes competições) e um entristecido tendão rotuliano.
Varela – é o suplente mais utilizado por Paulo Bento e, aconteça o que acontecer com Varela em campo, uma coisa é certa: no jogo seguinte, o Drogba da Caparica estará de volta ao banco.
William – é o melhor médio-defensivo português a uma distância que daria para ir ao Brasil, visitar todos os estádios e voltar. Mas para o seleccionador a gratidão conta muito e, de acordo com esse critério futebolístico, o lugar era de Miguel Veloso, um rapaz que, num mundo ideal, seria secretário de estado adjunto de William Carvalho.
Ruben Amorim – pronto.
Vieirinha – Paulo Bento convocou-o mas só o utilizou quando se viu forçado a experimentar a arrojada táctica do 3-1-6.
Rafa – já foi ao Brasil.
Beto – chorou. E bem.
Eduardo – cinco jogos em mundiais, um golo sofrido. É o maior!