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Circo da Lama

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

Circo da Lama

30
Jun14

7700: poupança de energia

Bruno Vieira Amaral

Ao fim de duas semanas de futebol consumido a um ritmo de, pelo menos, duas doses diárias, o cérebro humano entra em regime de poupança. Ontem, aos intervalos de lucidez e clarividência, em que tudo me parecia harmonioso e compreensível, sucediam-se longos períodos de dormência cognitiva em que o verde das camisolas mexicanas era idêntico ao verde dos algoritmos do Matrix. A cada lançamento da linha lateral, a minha cabeça aproveitava para vaguear por todos os assuntos secundários que este campeonato do mundo me obrigou a deixar em suspenso – como o reembolso do IRS ou a alimentação dos meus filhos – regressando ao jogo minutos depois, o que, num caso, coincidiu com a paragem para hidratação dos jogadores e, nos restantes, com os movimentos serpenteantes de Robben sempre finalizados com aquela coisa entre o desmaio e o mergulho com  que ele conclui todas as jogadas em que não consegue fazer golo ou passar a bola a um companheiro. Ontem, o extremo holandês derrotou Pedro Proença aos pontos. Tal como os mexicanos, o melhor árbitro português do mundo resistiu heroicamente até aos descontos, e só aí sucumbiu à humidade e à insistência de Robben. A FIFA tem agora pouco mais de uma semana para encontrar um árbitro de dentição completa e que fique tão bem na televisão como Proença, o querido dos queridos.

 

À noite, o meu cérebro manteve-se no modo poupança, amigo do ambiente e tal, tendo aí sido generosamente auxiliado pelas duas equipas em campo. A Costa Rica comprovou a minha teoria sobre as equipas-surpresa. Regra geral, são equipas simpáticas e fraquinhas, que se despenham, para bem dos espectadores, nos oitavos-de-final. Após a expulsão de Oscar Duarte, os costa-riquenhos, a qualidade do HD e um certo desespero helénico uniram-se para criar uma ilusão de óptica que dava a entender que os gregos eram uma equipa rápida, dominadora e entusiasmante. Só a expressão inamovível de Fernando Santos – o português com a cara mais trágico-grega de sempre – nos assegurava que o mundo ainda era o mesmo. Já decorria o prolongamento quando adormeci inapelavelmente. Acordei estremunhado. Havia lágrimas nas bancadas e gestos de incentivo no relvado e, sem o amparo da continuidade narrativa, demorei a perceber o que se estava a passar. Pensei que ainda iam marcar os penalties. Afinal, já tinha acabado tudo. Andei com as setinhas para trás – uma ferramenta muito útil para ensinar a regra do fora de jogo ao meu filho, para apreciar alguns deslizes verbais e para avaliar com justiça os atributos das adeptas uruguaias – e assisti, a salvo de qualquer desgosto, à ditosa eliminação da Grécia.

29
Jun14

7700: Fred e Jô

Bruno Vieira Amaral

Dos árbitros e da sorte não é lícito esperar uma coisa: que se virem ao mesmo tempo contra o Brasil. De uma equipa de Scolari pode-se esperar todo o tipo de qualidades – entrega, crença, coração, empenho, devoção – entre o bélico e o religioso, só não se deve esperar bom futebol. Isto é o fato à medida de uma competição a eliminar, com o tumulto emocional contínuo, o discernimento substituído pela fé cega que vai de tropeço em tropeço até ao paraíso. Só o Brasil de Scolari sobreviveria ao remate do intruso Pinilla ao minuto 119. Só o Brasil de Scolari escaparia com vida de um jogo em que fez alinhar – ainda que não em simultâneo, abuso supremo em que o treinador brasileiro teve a precaução de não incorrer – Fred e Jô. Duas crónicas atrás, posso ter sido injusto com o nosso trio de pontas-de-lança. Não quis dar a entender que a nossa inépcia atacante é uma característica da portugalidade, como os pastéis de nata, o fado e a Cristina Ferreira. Jô e Fred, tendo em conta o talento de que estão rodeados, são situações futebolísticas mais graves e, é o que sinto quando os vejo ensaiar uma ligação com a bola, penosas. Não é uma novidade para o Brasil. O unanimemente celebrado escrete de 82 tinha como ponta-de-lança Serginho Chulapa, um sofisticado mecanismo de aparência humana criado para falhar golos. (Como quase todos os jogadores brasileiros, Serginho ainda jogou uma época no Marítimo). No Brasil, os gordos vão à baliza, quem falhou uma carreira no jiu-jitsu vai para o centro da defesa e os toscos, para não atrapalharem a fluidez de jogo, vão lá para a frente fazer o mais fácil, encostar a bola para a baliza, tarefa ainda assim demasiado exigente para Fred e Jô. Há excepções: Ronaldo, um avançado que jogava em metade do campo, e Romário, um ponta-de-lança que ocupava um t0 na grande área e fazia passes para a baliza, são as mais evidentes. Mas excepções deste calibre só servem para aumentar a pressão sobre Fred, que agora exibe um cómico bigodinho de figurante da Kananga do Japão. Quanto a Jô, se entrasse em campo com um chapéuzinho às riscas corria o risco de alguém lhe pedir um gelado ou um cachorro. Estes acidentes não desvalorizam o essencial: com ou sem macumba, com ou sem Senhora do Caravaggio, com muito ou pouco mérito, com o tribalismo scolariano que disfarça as profundas lacunas tácticas do treinador, o Brasil está nos quartos-de-final.

 

- Antes do começo do jogo, estava a favor da Colômbia. Não desgosto do Uruguai, mas sem Suárez a equipa perde graça, futebol e dentes. E a Colômbia poderia finalmente cumprir o que a geração de 94 prometeu. Valderrama, Asprilla e Freddy Rincón, um arsenal de talentos românticos que se desintegrou na fase de grupos e cujo triste epílogo foi escrito numa rua de Medellín semanas depois, ficaram a dever-nos uma. Armero – nome de cidade maldita –, Cuadrado e, acima de todos, James Rodríguez estão a pagar essa dívida com juros. O primeiro golo de James, aliás, salda qualquer dívida. No início do jogo, e após algumas entradas de boas-vindas, o comentador da SportTv, hábil no recurso ao eufemismo, dizia que o jogo iria ser físico. E foi. Até ao momento em que James, rodeado de uruguaios, inventou aquilo. Aí, o jogo foi metafísico. Esperemos que a metafísica cafetera chegue para todas as macumbas sincretistas de Scolari.

 

- com a morte de Eli Wallach sinto necessidade de valorizar os secundários. Um abraço ao Murtosa, o último dos duros.

28
Jun14

7700: oitavos

Bruno Vieira Amaral

Para muitos, entre os quais não me incluo, o mundial começa hoje. Compreendo. A primeira fase é, regra geral, um período desinteressante, quase protocolar. Adeptos entediados costumam vibrar apenas com as “surpresas”, um primarismo que o apaixonado por futebol deve evitar a todo o custo. Lembremos a surpresa que foi a Grécia em 2004. No final, só acharam graça os gregos e os que queriam estragar a festa aos anfitriões. Ou a surpresa Dinamarca, ainda hoje recordada por ter ido recuperar os jogadores às praias do Mediterrâneo. É o que diz a lenda e, em caso de dúvida, imprime-se a lenda. As restantes surpresas normalmente são protagonizadas por equipas fraquinhas que por zelo, sorte e anti-futebol conseguem surpreender uma ou duas selecções poderosas e sobranceiras. O que este mundial tem de bom é que as surpresas desta primeira fase surpreenderam pela qualidade do futebol (Costa Rica) ou, pelo menos, pela coragem (Argélia). A única equipa com propósitos exclusivamente defensivos foi o Irão, selecção treinada por um português. A outra equipa que entrou em campo com cadeados foi a Grécia, embora nesse caso a responsabilidade não caiba por inteiro ao treinador. Português, como se sabe. Apesar das limitações metereológicas, das despreocupações tácticas (toda a gente sabe que abaixo dos trópicos até os grandes tácticos ficam de tanga) e de alguma mazela patriótica, foi uma primeira fase muito digna e televisiva. O que começa hoje é outro mundial. O mundial do perde-sai, do mata-mata, do quem-marcar-ganha. Acabou o mundial gourmet, começa o mundial fast-food, emoções rápidas prontas a servir. O que também não é mau. É verdade que os oitavos-de-final proporcionam ainda embates um pouco desequilibrados, mas a tensão dos momentos decisivos pode inibir os mais fortes e jogar a favor dos underdogs. Não são jogos completamente esquecíveis. Lembro-me de vários: um Alemanha-Marrocos em 86; o Brasil-Argentina de 90, com o golo de Caniggia a passe de Maradona; ainda nesse ano, os quatro golos da Checoslováquia à Costa Rica de Conejo, incluindo um hat-trick de Skuhravy; a vitória da Irlanda sobre a Roménia nos penalties; em 94, a cotovelada de Leonardo a Tab Ramos, num equilibrado Brasil-EUA, ou a grande exibição da Roménia de Hagi contra a Argentina Maradona-less; em 98, a reedição de mais uma batalha entre argentinos e ingleses, com um extraordinário golo de Owen e um vermelho idiota a Beckham; França a eliminar o Paraguai do nosso Gamarra após prolongamento, com um golo daquele sujeito com ar de professor primário da Provença; do mundial de 2002 – o pior de sempre, esqueçam lá a lenda do mundial 90 – só me recordo vagamente da Coreia a assaltar Itália; em 2006 estávamos lá e fizemos história contra a Holanda, num jogo com tantas agressões que deveria ter sido disputado Ciudad Juárez, mas o que perdurará na memória é o golo de Maxi Rodriguez contra o México; em 2010, também estávamos lá e só fomos capazes de repetir as palavras do capitão Ronaldo “Carlos, assim não vamos lá”. Que estes oitavos que hoje começam com uma espécie de mini-Copa América nos ofereçam momentos assim.

 

- o que fica do que passou:

a) o árbitro japonês que via coisas

b) o voo impossível de Van Persie

c) aquele cruzamento de Cuadrado

d) a velocidade de Joel Campbell

e) um lento passe de dança de Raheem Sterling à frente de Marchisio

f) os nervos de Pepe

g) a mítica defesa de Ochoa após cabeceamento de Neymar

h) o remate de Tim Cahill que resultou no melhor golo do campeonato

i) o vigor do Chile contra a lassidão espanhola

j) a ressurreição de Suárez com dois golos de campeonato do mundo

k) o passeio alegre de França pelos Alpes suíços

l) o golo do hondurenho Carlo Costly (melhor nome do mundial) contra o Equador

m) o golo anulado a Dzeko no jogo contra a Nigéria

n) aquele alemão tosco que marcou um golo no primeiro toque que deu na bola em todo o campeonato

o) a voracidade argelina a devorar os coreanos

p) Miguel Herrera a festejar os golos contra a Croácia no mais exuberante estilo mariachi

q) um golo fantástico de David Villa que será rapidamente esquecido

r) a dentada de Suárez (já muitas vezes vista), o golo de Godín (visto algumas vezes), italianos a correrem em desespero (nunca visto)

s) a cabeça abençoada de Islam Slimani

27
Jun14

7700: Portugal à vol d'oiseau

Bruno Vieira Amaral

Paulo Bento – à excepção de uma ligeira evolução na estética capilar, Paulo Bento não evoluiu muito. Agarrou-se aos mesmos jogadores que já nos tinham dado as meias-finais do Euro 2012 e seguiu à risca a máxima “em equipa que (quase) ganha não se mexe” esquecendo que a não renovação do onze daria um resultado mais próximo de “a equipa que ganhava já (quase) não se mexe.” Iremos sofrer a sua gratidão nos próximos dois anos.

 

Rui Patrício – demonstrou, proficientemente, no único jogo que disputou que está para a hierarquia dos guarda-redes mundiais como a irmã de Cristiano Ronaldo está para as divas da música. Courtois, Navas, Lloris, Ochoa e até o geriátrico Buffon fazem parte de uma galáxia que Patrício só pode contemplar à distância.

 

João Pereira – os raros defensores de João Pereira só têm um argumento a seu favor: “quem é que punhas no lugar dele?” A resposta é evidente: o rato Mickey.

 

Bruno Alves – de repente, parece uma peça obsoleta. Olhamos para o outrora indestrutível Alves e vemos Schwarzenegger em O Exterminador Implacável 2, ultrapassado por modelos mais recentes mas ainda capaz de bater.

 

Pepe – foi expulso por um daqueles momentos Pepe que o celebrizaram como o mais lunático de todos os defesas-centrais da actualidade. Regressou contra o Gana e não só fez uma exibição razoável como susteve os ímpetos de Bruno Alves, deixando claro a quem é que foi ministrada a dose de calmantes antes do jogo.

 

Fábio Coentrão – foi o menos mau contra a Alemanha, lesionou-se e regressou imediatamente a Portugal. Estatuto intacto.

 

André Almeida – o pino de luxo da nossa selecção. É preciso um lateral-esquerdo? Chama o Almeida. Um lateral-direito? Chama o Almeida. Um trinco? Chama o Almeida. Mais um gajo para a barreira? O Almeida não pode, está lesionado. No Benfica e na selecção, é o exemplo acabado de flexigurança. Para o ano deverá jogar no Maccabi Haifa ou num clube búlgaro.

 

Ricardo Costa – por incrível que pareça, este foi o terceiro mundial para Ricardo Costa, que, a par dos 200 quilos de bacalhau e das 50 toneladas de azeite, já se tornou uma presença obrigatória nestes eventos, com a vantagem em relação aos víveres de poder alinhar a defesa esquerdo.

 

Luís Neto – cumpriu a impressionante soma de zero minutos distribuídos harmoniosamente por três jogos. Foi uma das vítimas da gratidão de Bento.

 

Miguel Veloso – a não ser por causa da novela com o pai e do casamento com a filha do presidente do Perugia ou da Reggiana, os portugueses tinham perdido o rasto a Miguel Veloso. A excepção, claro, foi Paulo Bento que, logo que acabaram as buscas pelo avião da Malásia, contratou as equipas para encontrarem Veloso nas estepes russas.

 

Raul Meireles – este ícone da moda, de abundantes tatuagens, destacou-se neste mundial por ter levado uma cotovelada de um americano e por ter ficado, em consequência disso, a afagar, durante largos minutos e com um certo vagar otomano, as suas magníficas barbas.

 

João Moutinho – depois de uma época desastrada ao serviço do Mónaco, que lhe valeu a distinção de flop da temporada, o pior que podia acontecer ao enérgico Moutinho era jogar ao lado de dois tractores. Assim que lhe ofereceram dois seres humanos capazes de pensar e correr ao mesmo tempo, o rendimento de Moutinho melhorou.

 

Nani – no início do campeonato, ainda me perguntei ingenuamente se seria este o torneio de Nani. Depois de três jogos, recepções de bola dignas de um pedreiro, um golo inexplicável e recomendações brutais aos colegas, ficou a certeza que não.

 

Helder Postiga, Hugo Almeida e Éder – para demonstrarmos a nossa incapacidade em produzirmos um ponta-de-lança de jeito podíamos ter escolhido qualquer um destes jogadores. Ter seleccionado os três equivale a uma declaração de guerra contra o próprio conceito de avançado e, lateralmente, contra a ideia de marcar golos.

 

Cristiano Ronaldo – Antes do jogo com a Alemanha declarou estar com sensações místicas que lhe diziam que este seria o ano de Portugal. Depois do jogo com os EUA o tom já era mais realista e, apesar de ainda não estarmos eliminados, Ronaldo disse que nunca sonhou ser campeão do mundo, que tínhamos uma equipa muito limitada e que havia selecções mais fortes. Tudo verdade, mas ficámos sem saber se um quarto jogo de Portugal implicaria um quarto penteado em terras brasileiras. No fim, o Bola de Ouro regressa a casa com vários recordes (jogador português com mais jogos em mundiais, único a marcar em três campeonatos e, desde 2004, sempre a marcar pelo menos um golo em fases finais de grandes competições) e um entristecido tendão rotuliano.

 

Varela – é o suplente mais utilizado por Paulo Bento e, aconteça o que acontecer com Varela em campo, uma coisa é certa: no jogo seguinte, o Drogba da Caparica estará de volta ao banco.

 

William – é o melhor médio-defensivo português a uma distância que daria para ir ao Brasil, visitar todos os estádios e voltar. Mas para o seleccionador a gratidão conta muito e, de acordo com esse critério futebolístico, o lugar era de Miguel Veloso, um rapaz que, num mundo ideal, seria secretário de estado adjunto de William Carvalho.

 

Ruben Amorim – pronto.

 

Vieirinha – Paulo Bento convocou-o mas só o utilizou quando se viu forçado a experimentar a arrojada táctica do 3-1-6.

 

Rafa – já foi ao Brasil.

 

Beto – chorou. E bem.

 

Eduardo – cinco jogos em mundiais, um golo sofrido. É o maior!

26
Jun14

7700: cenas de um casamento

Bruno Vieira Amaral

- A crónica de Santiago Segurola, publicada hoje no DN, intitula-se “Messi influi no golo, não no jogo”. Termina assim: “Por agora, a Argentina depende tanto ou mais da sua estrela do que dependeu de Maradona no México 86. No entanto, ninguém diz que Messi seja o Maradona deste Mundial. Necessitará de algo mais do que golos. Terá de ser o campeão do futebol jogado. E por agora não o é.” Não o é e não tem sido nos últimos anos em que a estratosférica rivalidade com Cristiano Ronaldo é medida pelo único critério da absurda quantidade de golos que cada um tem concretizado. Messi tem resolvido os resultados da Argentina, mas parece incapaz de resolver os problemas da equipa. Neste mundial, Ronaldo não tem feito nem uma coisa nem outra. O play-off com a Suécia mostrou uma equipa planeada em função das necessidades da sua estrela que pagou em golos esse acordo: uma equipa pensada para jogar em contra-ataque com o melhor jogador do mundo para essa estratégia. A equipa joga para ele e ele retribui com golos. Mas esta Argentina não consegue jogar para Messi. No Barcelona, Messi é um membro perfeitamente integrado, a equipa joga com ele. Na selecção, há um desacordo, uma incompreensão mútua, da qual o jogador não se pode queixar em público porque será logo acusado ou de não render na selecção o que rende no Barcelona ou de ser um mau patriota. Entre uma coisa e outra, Messi prefere ficar calado, aceitar que o casamento nunca será feliz e continuar a trazer o dinheiro para casa ao fim do mês, bolsos cheios de golos.

 

- Óscar Tabárez disse que isto é um campeonato de futebol, não é um campeonato de moralidade barata. E apesar de o comportamento de Luis Suárez ser censurável há, de facto, um excesso persecutório, farisaico, na imprensa inglesa, sempre atenta às manchas morais dos seus estrangeiros. Lembremos o episódio da expulsão de Rooney em 2006. O rapaz pisou os tomates de Ricardo Carvalho mas quem é que foi eleito o vilão da história? Ronaldo. Por ter piscado o olho e ter cometido a infâmia definitiva de trair um colega de equipa, contra todas as regras da boa solidariedade inglesa. Suárez será suspenso, o problema é que a moralidade de tablóide vai continuar.

 

- Prognósticos? Portugal vai ganhar 3-0 e despedir-se em beleza deste campeonato do mundo.

25
Jun14

7700: civilização

Bruno Vieira Amaral

- A não ser para quem esperava uma nova aparição dos dentes de Suárez em qualquer parte da anatomia de um adversário, o jogo entre Itália e Uruguai foi uma desilusão. Talvez tenha sido do calor no Recife. Talvez tenha sido por à Itália bastar um empate. Calor e um zero-zero favorável aos italianos: os ingredientes ideais para os transalpinos exercitarem o cinismo que lhes é creditado como maior virtude futebolística ou, na novilíngua da bola, para especularem. Eu diria que há ali outra coisa: uma devoção ao ócio, aos prazeres que a própria lentidão cria. Aquela forma de jogar é a arte de estender o tempo sofrendo o menos possível. Não se pense que é uma lentidão sofrida, reflexo de incapacidade. Pelo contrário. É uma lentidão deliberada. A estratégia passa por uma organização de tal forma intricada que dispense os jogadores de correrem mais do que aquilo que é estritamente necessário. Desacelerar o jogo é um diletantismo que só uma equipa civilizada se pode permitir. E as equipas italianas são, acima de tudo, obras de civilização. Mesmo quando o futebol praticado é aparentemente feio resta sempre a beleza da fidelidade a um princípio, e essa ética é, também, uma estética, uma forma de viver. Os italianos, eliminados uma vez mais na primeira fase, voltam para casa de cabeça erguida porque é assim que jogam e, sendo o campo uma miniatura cénica da vida, diria que é assim que vivem.

 

- Tem sido tão grande a razia de equipas europeias que ver a Grécia passar aos oitavos-de-final obriga-nos a perguntar: de onde é que vieram estes rapazes? Tenho de confessar a minha admiração pelos gregos. Ontem, precisando de ganhar, não se lançaram para o ataque, não foram à procura do golo como selvagens esfomeados. Esperaram. Jogaram como se um empate lhes bastasse, apostando tudo no erro do adversário, na estupidez alheia e, no fim, foram recompensados por esse pessimismo antropológico. Com o seu futebol rudimentar o qual, nos momentos felizes, se pode premiar com o adjectivo “pragmático”, os gregos são também, à sua maneira, um dos últimos pilares civilizacionais deste jogo bárbaro: jogam sempre mal, marcam poucos golos, parecem resolutamente empenhados em não entusiasmar ninguém. São previsíveis até ao bocejo e há nessa previsibilidade qualquer coisa de amorável, como nos defeitos reiterados das pessoas de quem gostamos. Os dois golos de ontem foram apenas o terceiro e o quarto que a Grécia marcou em três participações e nove jogos em mundiais. Resultado? Estão nos oitavos-de-final a acenar a espanhóis, ingleses, italianos e, quase de certeza, portugueses.

 

- O caso de Suárez é do domínio da patologia. Depois da redenção e de, com justiça, se ter projectado com dois magníficos golpes para o cume onde estão as figuras notáveis da prova, o avançado uruguaio voltou a ser o desequilibrado a intervalar séries estupendas de golos com acções que, dizem os menos compreensivos, só podem ser iluminadas pela psicanálise. Apesar disso, nem todos ficaram horrorizados com a dentada de Suárez. Na Suécia, mais de cem apostadores puseram o dinheiro onde estaria a boca do "conejo". E saíram a ganhar.

24
Jun14

7700: aquele golo

Bruno Vieira Amaral

 

Foi no mundial de 1986. No torneio de Diego Armando Maradona e de Pique Malagueta. Do poker de Butragueño e do hat-trick de Gary Lineker, o primeiro de que me lembro. Nesse mundial, bastou um golo para que Manuel Negrete registasse o seu nome na história do futebol. O golo certo na hora certa. No exterior do Estádio Azteca, palco de duas finais de mundiais, onde, numa tarde memorável, Maradona disfarçado de Deus e Diabo desfez a selecção inglesa, uma placa assinala aquele golo. O México, a jogar em casa, tinha esperanças de chegar longe no torneio. A preparação tinha sido meticulosa, com um grupo de jogadores escolhidos pela federação treinado para não desiludir. Naquele Domingo, 15 de Junho, jogavam-se os oitavos-de-final e o adversário da equipa da casa era a Bulgária. Era uma oportunidade de ouro para o México fazer boa figura. Mas o que aconteceu aos 35’ foi mais do que isso. Negrete, à entrada da área, deu a bola para Javier Aguirre que, sem a deixar cair, devolveu-a a Negrete. Depois, foi um segundo, nem tanto. Quando a bola inicia a trajectória descendente, Manolo já sabe o que vai fazer: um voo, um salto, um pontapé de moinho e, a próxima vez que a bola bater no chão, já será dentro da baliza da Bulgária, defendida por Borislav Mihaylov, mago da regeneração capilar. Hoje, 28 anos depois desse mundial, os golos que se recordam são os de Maradona contra a Inglaterra, mas o que todos os miúdos queriam era marcar um golo à Negrete. Na relva em frente do meu prédio, voávamos de lado, procurando repetir a coreografia que víramos, espantados, na televisão. Mesmo quando a bola não vinha a jeito, dávamos-lhe um toque a mais para merecer dos mais velhos a aprovação definitiva: “parecias o Negrete”. Quando, nesse ano, o jogador mexicano foi contratado pelo Sporting, a sua fama excedia largamente o seu talento. Não era que lhe faltasse talento, mas a fasquia era aquele golo único, superlativo. A proeza colou-se-lhe à pele e tudo o que fosse menos que aquela acrobacia era como que uma traição. Mas nenhum jogador do mundo poderia repetir ou sequer aproximar-se do que acontecera naquele momento esquisito, muito menos ao ritmo semanal dos jogos de campeonato. O mundial de 2014 ainda não nos ofereceu um golo assim. Um golo autónomo do resto do jogo, capaz de deixar na sombra toda uma carreira, uma ilha impossível, um golo maior que o seu autor, um golo como aquele que foi o zénite e a maldição de Manuel Negrete Arias, um homem que viverá para sempre no minuto 35 no Estádio Azteca, numa certa tarde de Junho.

23
Jun14

7700: mas não muito

Bruno Vieira Amaral

Cá estamos de novo. E, ao contrário dos que nos querem fazer crer, a depender não da matemática certa, que não admite sentimentalismos, mas à espera do sobrenatural que nos acuda. Tínhamos a vida resolvida, o destino traçado e aquele golo de Varela veio acender esperanças insensatas, fazendo os mais líricos sonhar com goleadas ao Gana, o que, pelas amostras de futebol, só conseguiremos caso os nossos jogadores entrem em campo de mota. O irracional é tão invasivo que algumas cabeças, já certas de vitória gorda sobre o Gana, começaram de imediato a culpar alemães e norte-americanos na eventualidade de estes se abotoarem com um empate. Enfim, nada a fazer. O jogo desta noite, mais do que qualquer outra coisa, fez-me ter saudades do tempo das vitórias morais, do nosso futebol de rodriguinhos, sem balizas, estéril mas muito palrador, ao qual faltavam trinta metros mas que no resto do campo era senhor ufano. Muitas vezes injustamente apontada como uma fraqueza nervosa, uma tibieza de espírito, a vitória moral era, só agora compreendemos, o nosso consolozinho, a nossa mantinha sobre os joelhos. A vitória moral era uma vitória. Agora já só conseguimos empates imorais. O golo de Varela só mereceu celebrações tristes. Em vez de bandeiras desfraldadas, sacámos todos das santas calculadoras e das invocações a Nossa Senhora do Ábaco. Paulo Bento nem reagiu. Foi o golo mais murcho da nossa história. Explicações? Não tarda elas surgirão. Alguém, um qualquer irresponsável federativo, chamará a si os holofotes com promessas de revelações escandalosas que, inevitavelmente, envolverão putas de Campinas. É só esperar. A onda de lesões musculares já não é do domínio da medicina desportiva mas da bruxaria. Os nossos jogadores dividem-se entre os que estavam a recuperar de lesões, os que se lesionaram, os pré-lesionados e os que escaparam por milagre a uma lesão. Psicologicamente, nem sequer fomos capazes de aproveitar o estímulo de um golo caído do céu. Ao longo dos noventa minutos, fizemos tudo para parecer um conjunto de onze pessoas com problemas musculares que tivessem acabado de se conhecer. Depois, claro, Paulo Bento. Vendo que o seu plano inicial – e que deu bons resultados no euro’2012 – não funcionava, Bento fez aquilo que só ele seria capaz de fazer: insistir nesse plano. O destino vingou-se de forma cruel. Com a lesão de André Almeida, foi obrigado a fazer entrar William Carvalho e a expor assim toda a sua inépcia táctica ao mundo. Um treinador que se dá ao luxo de prescindir da inteligência de William Carvalho em nome da coesão, do espírito de grupo e desse fenómeno fisiológico conhecido como “balneário” não merece outra sorte. Vamos agora enfrentar o Gana que, a exemplo dos EUA e para citar António Tadeia, tem jogadores “rápidos e velozes”. Os nossos, pobrezinhos, estão lentos e parados. E ou temos uma conjugação de resultados que, a acontecer, seria um acontecimento cósmico só ao nível do big bang ou, na próxima quinta-feira, os nossos heróis estarão de regresso à Pátria, garantindo ao povo que este grupo de jogadores não só vai levantar a cabeça como também vai dar a volta.

 

- Estes resultados sofríveis têm um efeito positivo: permitem-nos olhar para a história da nossa selecção sem exageros patrióticos. Limitemos a análise às nossas participações em mundiais. Até 2002 conseguimos ir lá duas vezes, o que até para um país que não se gabe de ter uma grande tradição futebolística é patético. O problema foi o sucesso de 66 que distorceu por completo a percepção dos portugueses sobre as capacidades da selecção. O apuramento para o mundial de 86 foi uma daquelas gestas improváveis em que a um golo absurdo de Carlos Manuel se juntou a sobrevivência ao maior assalto militar desde a batalha de Estalinegrado e um resultado favorável no jogo dos nossos adversários directos. Bem vistas as coisas, desde 86 até ontem o nosso historial inclui derrotas com Polónia, Marrocos, EUA e Coreia do Sul e vitórias sobre Angola, Irão e Coreia do Norte. A campanha de 2006 foi realizada sob os auspícios de Nossa Senhora do Caravaggio e, mesmo assim, terminou com uma derrota clara contra os alemães. Em 2010, sobrevivemos ao grupo da morte num tal estado de depressão que caímos logo a seguir, obedientemente, contra a Espanha. Afirmar a nossa superioridade teórica sobre os norte-americanos quando os resultados demonstram um empate é uma daquelas erupções cutâneas do espírito português que pedem mais Padre António Vieira e Eduardo Lourenço e menos Luís Freitas Lobo e António Tadeia. Valemos mais do que estes resultados dão a entender? Sim, mas não muito.

22
Jun14

7700: encontro de irmãos

Bruno Vieira Amaral

Já em 2010 tinha sido assim. Na altura, era a primeira vez que dois irmãos jogavam um contra o outro num campeonato do mundo. Pela Alemanha, Jérôme Boateng. Pelo Gana, Kevin-Prince Boateng. Este último tinha jogado pelas selecções jovens da Alemanha, mas alguns conflitos com treinadores e com a federação levaram-no a aceitar o convite para jogar pelo Gana. Jérôme, menos exuberante que o irmão, talvez mais germânico, manteve-se incógnito na mannschaft, um lateral regular que sobe pela certa e arrisca pouco. Kevin-Prince, não sendo genial, tem génio e namorada de passerelle, uma Melissa italiana que promove as proezas sexuais do seu macho onde deve ser: nas redes sociais. Marca golos fabulosos, embora raros. Ontem, uma vez mais, não estiveram à altura do potencial bíblico do recontro. Abel e Caim, Esaú e Jacó, José e os irmãos. Ao intervalo, Joachim Löw deixou Jérôme a reflectir no balneário. O treinador do Gana, James Appiah, só se deve ter apercebido da falta do lateral alemão oito minutos após o reinício do jogo e para que Kevin Prince não se ficasse a rir do irmão substituiu-o nesse momento. Não podemos desculpar os fraternais Boateng. Tínhamos aqui uma tragédia pronta a ser encenada e, no final, nem uma falta mais dura, nem um insulto, um indício de zanga, nada. Nenhum se destacou. Acabaram substituídos. Consta que irão passar férias juntos em Miami. E algumas pessoas ainda se perguntam para que serve a ficção. Serve para incendiar os factos quando a realidade é morna.

 

A segunda parte do jogo de ontem mostrou-nos que a poderosa selecção da Alemanha é menos poderosa quando defronta equipas que não estão interessadas em cometer suicídio. Mostrou também que o futebol é mais forte que o sangue e a terra. Quem é que, em Portugal, não ficou contente com o segundo golo dos ganeses? Ninguém olhou para a tabela classificativa. Eu não olhei. Uma selecção como a de segunda-feira não faz falta a este campeonato do mundo. E não vale o sofrimento dos adeptos.

 

A dimensão de um erro de arbitragem é mais evidente quando não estamos a torcer por nenhuma das equipas. Vemos a meridiana injustiça do erro, a sua influência funesta, sem a ambiguidade do beneficiado e sem a indignação exagerada de quem é vítima de roubo. O golo anulado a Edin Dzeko doeu-me não porque estivesse a torcer pela Bósnia ou porque algo me movesse contra a Nigéria mas por ter sido uma injustiça. Até em casa vi, sem repetição, que o homem estava em jogo. Ao que parece, a visibilidade da linha lateral em Cuiabá não era das melhores. Perante tão óbvia injustiça, que só me levou a pensar “isto não se faz”, dispensam-se as teorias tão aproveitadas nestes momentos, das conspirações contra os países mais pequenos às manobras de platinis maquiavélicos. Foi injusto porque há coisas que podem só acontecer uma vez na vida. E, ontem à noite, em pleno Pantanal, Dzeko pode não ter marcado o seu único golo em mundiais.

 

Messi marcou um golo à Messi. Klose marcou um golo à Klose. O mundo é o que é.

21
Jun14

7700: breves notas

Bruno Vieira Amaral

- Estaremos perante a primeira selecção francesa da qual é lícito gostar? Ainda não consigo responder à pergunta, mas ver a forma como reduziu a Suíça a uma curiosidade etnográfica, um esboço multicultural, é um bom augúrio. Benzema está a pagar liberalmente a paciência dos adeptos que acreditaram sempre que o lugar dele era entre os melhores do mundo e não nas fileiras dos jihadistas na Síria. Matuidi e Pogba já são grandes jogadores e, ao contrário de Lilian Thuram, não aparentam ter aspirações intelectuais. A discrição e o cabelo de Lloris asseguram-nos que nunca teremos de assistir a rituais tão desagradáveis como o que Laurent Blanc e Fabian Barthez deram ao mundo em 98. Didier Deschamps, apesar de um certo ar agricultural, quase nos faz esquecer o tempo em que a França foi orientada pelo astrológico Domenech, um dos treinadores mais detestáveis da história do futebol. Isto é muito interessante porque a forma como os franceses chegaram ao mundial e o facto de serem franceses, tornava-os, à partida, os candidatos perfeitos a ocupar o trono do ódio de estimação do torneio. Assim se demonstra que o futebol praticado em campo pode corrigir sentimentos, tornar melhores os adeptos de coração duro, derrubar preconceitos. Pelo menos até que os franceses voltem a ser franceses.

 

- Porque é que os suíços jogam à bola? Não deviam estar todos a lavar dinheiro nas montanhas?

 

- A Costa Rica é conhecida como a Suíça da América Central mas, tirando isso, é um país simpático. Todos nós devíamos saber três coisas sobre qualquer país do mundo para estarmos prevenidos no caso de acordarmos, sem razão aparente, em Tegucigalpa ou Bratislava. As três coisas que, até este mundial, sabia sobre a Costa Rica eram: 1) que a capital é a formosa San José, 2) que a ficção escolheu o país como o lugar certo para ressuscitar dinossauros e 3) que, num Sábado remoto, a Checoslováquia eliminou sem misericórdia a selecção da Costa Rica que chegou aos oitavos-de-final no mundial de 1990; dessa equipa, lembro-me de Luis Gabelo Conejo, bigodudo guarda-redes, e de Hernán Medford, nome de realismo mágico caribenho. Desconheço se alguma destas informações me seria útil em caso de necessidade. Porém, a campanha dos ticos neste mundial, duas vitórias sobre dois ex-campeões do mundo e apuramento para os oitavos-de-final à segunda jornada, é um manancial de informações extra sobre o pequeno país da América Central, cuja moeda é o colon e que desde 1948 não tem exército, o que torna improvável a existência de um golpe militar nos próximos tempos. Bryan Ruiz, Keylor Navas e Joel Campbell são cromos que irão durar tanto na memória dos miúdos de 10 anos como os seus antecessores de 90, mesmo que a sorte lhes reserve nova eliminação nos oitavos-de-final, num sábado qualquer.

 

- Este mundial é tão estranho que até num Honduras-Equador se vê bom futebol.

 

- Mesmo em poucos segundos e mesmo sendo Balotelli, Balotelli devia ter percebido que a qualidade do passe de Pirlo era de tal ordem que as probabilidades de concluir a jogada com um chapéu sobre o guarda-redes eram praticamente nulas. A parte perfeita da jogada já existia. A Balotelli pedia-se apenas um remate burro para dentro da baliza.

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