Caras & Crimes
Miguel Sousa Tavares, no Expresso, diz que a cara de Isaltino “condiz com o que o tribunal o acusa de ter feito”. Concordo. Há caras para todos os crimes e até há caras que, por muitos cremes que lhes ponham, são verdadeiros crimes. Mais: exige-se um enquadramento penal para quem fuma charutos com aquela desfaçatez à porta de um tribunal. O charuto, como se sabe, evoca corrupções várias, oligarquias e nepotismos. O homem que expele o fumo do charuto faz recair sobre si a nuvem da suspeição. Há ali, no mínimo, peculato, um apalpão furtivo à secretária, uma mariscada conspirativa. Mas se a cara de Isaltino exclama delitos autárquicos, o que nos confidenciam as caras dos nossos políticos? Poderão os dentes alvíssimos de Paulo Portas sugerir outros branqueamentos? Embora não seja um crime, não há no prognatismo de Jerónimo uma ameaça de licantropia? A magreza trostkista de Louça e a fronte eclesiástica suada de Ideal não denunciam uma predisposição sádica para o espancamento de banqueiros? O estilo carygrantesco de Sócrates e a sua agilidade remetem para roubos de jóias na Riviera. Como é português, adivinham-se desvios menores: roupões em spas, lenços na Hermés e amostras de cremes, enquanto folheia revistas no supermercado. Manuela Ferreira Leite transparece seriedade, portanto só a imagino a envenenar um adversário político.