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Out09
All fighters are sad
Bruno Vieira Amaral
Redbelt é o filme de porrada de David Mamet, o que quer dizer que é um filme com muito Mamet e pouca porrada. Há uma cena de “rixa de bar” que denuncia uma influência “seagaliana” e um combate final que acontece contra a vontade do protagonista e, tudo leva a crer, do próprio argumentista.
Chiwetel Ejiofor é um instrutor de jiu-jitsu. Como é um indivíduo de carácter nobre e respeitador das vetustas tradições orientais, vê-se em dificuldades para pagar a renda. A solução é combater no ringue, apesar de ele acreditar que a competição enfraquece o lutador. É então que entra em cena o argumento. Mamet faz tudo (sub-plots, um filme dentro do filme, Rodrigo Santoro) para evitar que este Mr. Myagi afro-americano combata pelo dinheiro de que tanto precisa. É com muito esforço que o filme acaba com o inevitável combate, mas mesmo assim fora do ringue, talvez para não o confundirmos com filmes do Eric Roberts ou do Van Damme.
Mais do que um filme, Redbelt é um conjunto de desperdícios. Desperdiça Alice Braga (a mulher de Elijofor), desperdiça Emily Mortimer (uma advogada que anda por ali, acidental como um disparo), desperdiça Tim Allen (falta densidade à personagem que justifique a mudança de registo do actor), desperdiça Joe Mantegna (que no grau de “mametianidade” só perde para Ricky Jay, um actor que sempre que abre a boca consegue transportar-nos para a secretária onde David Mamet escreve os argumentos). Desperdiça, acima de tudo, este texto do próprio David Mamet.
É normal que, uma vez na vida, um dramaturgo sério queira escrever sobre a vida real: fábricas de conservas, rixas em bares, rotativos na cabeça. Mamet quis escrever sobre a tristeza dos lutadores mas não abdicou da ginástica dramatúrgica que acaba por nos distrair da tristeza do rosto de Ejiofor. E esse rosto e essa tristeza são o melhor que o filme tem.