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Dez09
Famílias
Bruno Vieira Amaral
Sábado, sessão dupla para esquecer as agruras da vida e dos multiplex: O Padrinho e Feios, Porcos e Maus. Estamos no Natal, é a época da família. Época das famílias. Michael Corleone é a melhor personagem da história do cinema. Chega atrasado e americanizado ao casamento da irmã, uniforme e namorada americanos. Está nas margens da família. Depois, o pai é vítima de um atentado. Depois, Michael é esmurrado por um polícia corrupto. Depois, ele percebe que não pode fugir às suas responsabilidades porque, entre famílias, a América é um conceito abstracto e longínquo. A Sicília fica mais perto. Lá se vai o sonho americano por água abaixo. E então chega o momento da transformação, em que Michael deixa de ser Michael e passa a ser um Corleone. “Fredo, you're my older brother, and I love you. But don't ever take sides with anyone against the Family again. Ever.” A personagem que diz isto está a milhas de distância da personagem que vimos no início. Família. Vito Corleone morre a brincar com o neto, Sonny Corleone é morto numa emboscada quando vai ter com a irmã. Família. A de Giacinto Mazzatella que vive em alegre promiscuidade numa barraca romana. Todos ao monte e fé na caçadeira. A família não é de fiar. Todos querem o dinheiro que Giacinto guarda como a própria vida. Eles querem plata, Giacinto dá-lhes plomo. A mulher é compreensiva, basta bater-lhe. E como a família não encontra o dinheiro, une-se para uma última ceia em que todos são Judas. Quem resiste a 30 moedas de prata? Giacinto come a massa envenenada mas sobrevive. E destrói a casa com o fogo da sua fúria. Família rica. Família pobre. Nada tradicionais.