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"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

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Circo da Lama

14
Fev10

Biografia rima com burocracia

Bruno Vieira Amaral

 

Publicado no i

 

 

Esta biografia de José Saramago, da autoria do investigador João Marques Lopes, é a prova da difícil relação dos portugueses com o género. Trata-se do percurso invulgar do único prémio Nobel da literatura de língua portuguesa e de um homem polémico que ainda não perdeu a capacidade de provocar reacções epidérmicas aos adversários de sempre: a direita e a Igreja Católica. No entanto, se compararmos esta biografia com as de outros nobelizados, como Gabriel García Márquez e V.S. Naipaul, não podemos deixar de sentir a falta de ambição e de talento para nos dar um retrato mais completo e complexo não só do homem e do escritor, mas também da sua época. É verdade que nem todos podem ser Ruy Castro, cujas biografias são muito provavelmente o expoente máximo do género em língua portuguesa. O que não desculpa a linguagem burocrática e, pontualmente, hermética de Marques Lopes, que confunde o rigor da investigação com uma prosa em rigor mortis. A função do biógrafo é de transportar o leitor para a vida do biografado e não para os arquivos e bibliotecas onde fez a pesquisa, por muito meritória que esta seja. Uma das opções mais questionáveis é a ausência de entrevistas. A base da investigação é exclusivamente documental, o que não se compreende, tendo em conta que alguns dos protagonistas dos episódios mais polémicos da vida de Saramago poderiam oferecer testemunhos relevantes. Seria interessante ouvir o desaparecido Sousa Lara ou Maria Lúcia Lepecki, membro do júri do prémio da APE que elegeu O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que votou por uma obra de que ninguém se lembra. Em relação a outras polémicas, Marques Lopes suaviza a participação de Saramago no saneamento de jornalistas do DN durante o PREC, menospreza a crítica literária quando esta não é simpática com Saramago, atribuindo-lhe motivações ideológicas, e eleva o escritor à condição em que o próprio gosta de se rever: a de profeta-mor dos desempregados morais do comunismo. As afinidades ideológicas entre biografado e autor são óbvias e, até por esse motivo, este será o primeiro a reconhecer que a biografia paroquial que escreveu não honra a dimensão universal de Saramago.

 

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