Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Circo da Lama

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

Circo da Lama

06
Jun10

Nascimento de uma Nação-Cadáver

Bruno Vieira Amaral

Timor-Leste, como qualquer outro país, é uma ficção. Peregrinação de Enmanuel Jhesus, o novo romance do jornalista Pedro Rosa Mendes, é uma ficção literária sobre a ficção de um território. Pelas vozes de várias personagens, são evocados 500 anos de História, da indigência do luso-colonialismo à ocupação indonésia, da guerra civil ao messianismo tardio que culminou com a independência de um país inviável. Um desfecho adequado à narrativa da vitimização timorense (“[...] a língua eucaristica e narrativa de vitimização são os dois tesouros nacionais no génesis do Estado Lorosa’e.”). Alor, a personagem central, desempenha a função sacrificial, o Moisés criado pelo inimigo e que não verá a terra prometida. Aquele desfecho também serviu de epílogo à narrativa do Portugal colonial. Se este é um livro sobre Timor é também um livro sobre Portugal, que viu naquela ilha a última oportunidade de redenção de uma descolonização desastrosa. Dois actores marginais da História contemporânea a confluírem para um final apoteótico de culpa, sangue e libertação política e moral. Nesta história, Timor não foi o único “pequeno povo condenado à pequena ambição da vitória moral”.

 

Embora possam ser detectadas semelhanças com Baía dos Tigres, híbrido de difícil classificação, Peregrinação de Enmanuel Jhesus é um objecto de contornos literários mais definidos, sem prejuízo da diversidade de registos. Algo que, a par da amplitude do relato, justifica a polifonia do romance: da cartografia aos sistemas de linhagem, da história militar e religiosa à diplomacia das grandes potências, das artes marciais à arquitectura, o leque de temas é tão vasto que a hipótese de um único narrador aproximaria perigosamente o livro do género jornalístico, uma espécie de mega-reportagem didáctica. A flexibilidade da estrutura – os autos de uma missão de inquérito conduzida por um bispo norueguês – é o sustentáculo da harmonia do coro. O realismo e a erudição de Dalboerkerk (a voz principal) entrelaçam-se com naturalidade no lirismo quimérico de Wallacea (a única voz feminina). O resultado é um romance magistral, a milhas do que se convencionou chamar literatura portuguesa.

Seguir

Contactos

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2018
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2017
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2016
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2015
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2014
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2013
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2012
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2011
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2010
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2009
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D