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Circo da Lama

"Se ele for para a Suiça, não lhe guardo as vacas", David Queiroz, pai de António, vencedor da Casa dos Segredos

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Circo da Lama

21
Ago10

Conos

Bruno Vieira Amaral

Connadamãe

 

O circunspecto, superiormente educado, afável e eloquente Professor Queirós (no fundo, um homem cheio de tensões e de raivas acumuladas e com pouco talento para as disfarçar) depois de ter utilizado estas qualidades para convencer o comentador Jorge Baptista da iniquidade dos comentários deste, mandou o Professor Luís Horta para a connadamãe, sugestão que aparentemente não terá sido acatada com a presteza usual entre professores. Quando um professor manda alguém para a connadamãe quer simplesmente dizer “volta lá para o buraco de onde saíste”. Queirós podia ter mandado Horta para casa, para o laboratório, para a escola, mas optou pela mais regressiva de todas as possibilidades, uma variação conal do que se dizia aos pretos (“Vai lá prá tua terra, ó preto”, um insulto que hoje em dia caiu em desuso porque o ofendido geralmente baixava a cabeça e comprava um humilde bilhete de comboio para a Amadora). Ao dizer o que disse, Queirós afirmou que era melhor que Horta não tivesse nascido, aconselhando-o a regressar à connadamãe para prolongar o período de gestação até limites supra-paquidérmicos.

 

 

Connamole

 

Cresci num tempo em que connamole era insulto. O connamole era o enjoado, a quem repugnava o ar livre e até o oxigénio, se não lhe fosse essencial à sobrevivência. O connamole não se limitava a não participar nas nossas iniciativas bárbaras; ele gostava de expor a molezzadiconna à nossa contemplação. Em vez de ir para casa quando não queria brincar, ele ia para a rua precisamente quando não queria brincar. Sabendo que não nos podia impedir de fazer o que nos apetecesse, o connamole fruía o secreto prazer de retirar às brincadeiras o fôlego da unanimidade, indispensável quando nos queremos comportar como verdadeiros símios. De forma involuntária, o connamole introduzia uma dose de racionalidade em actividades que, quando observadas do exterior, careciam desse atributo. O connamole constrangia-nos a sermos menos estúpidos do que desejávamos.

 

Connarrapada

 

Não quero emular o espanhol que com infinitas graça e tesão descreveu minuciosamente os encantos das mais variadas espécies de cona. Terei alguma apetência para sátiro mas nenhuma para entomólogo, o que me proíbe de grandes tratados de conologia. A minha reflexão, à força de muito cunnilingus (que mania esta de se lamber em latim) e não pouco tédio, tem o humilde propósito de aumentar a bibliografia sobre a connarrapada, género que relegou a connafelpuda do mainstream para um circuito alternativo frequentado por fetichistas e intelectuais franceses. Apesar da recente popularidade, a connarrapada permanece alvo de desconfianças múltiplas que insistem em identificar a glabra preferência com uma oblíqua nostalgia infantil ou com a padronização industrial ditada pela pornografia. Confesso, desde já, que no meu caso trata-se de um notório cruzamento de ambas, ao qual acrescentaria um fascínio pela beleza nua de bivalve que é própria da cona. Há quem ache a cona esteticamente repugnante, grupo que inclui indiscriminadamente mulheres e homens, embora a maior parte destes não se detenha nesse tipo de apreciações supérfluas e um tanto efeminadas. Mas o aumento do número de ninfoplastias, ou conoplastias, ao revelar uma crença na perfectibilidade da cona, no seu embelezamento cirúrgico, significa que a beleza da cona é um dado objectivo e não uma impressão que me assaltou subjectivamente ontem à noite enquanto executava um minete com tal arte que a minha língua se fez Menuhin de uma cona-violino (não vêm os melhores de Cremona, nome sugestivo de entre todos?). A cona pode ser bela. A cona deve ser bela. A questão da connarrapada é da ordem do que deve ser mostrado: é mais apetecível a muçulmana de burqa que atravessa as ruas do Cairo ou a rapariguinha que se bamboleia de mini-saia na estação de Rio de Mouro? Nenhuma, se ambas padecerem de candidíase. Sátiros de todo o mundo, quereis a cona de burqa ou a cona imberbe, a cona oculta ou a cona desaforada, courbetcona ou schielecona? A minha preferência, hoje, sábado, 21 de Agosto de 2010, embora possa ser circunstancial e daqui a uns anos pareça um anacronismo ou uma deficiência de espírito característica da época (lembrai-vos das bem nutridas figuras femininas de Rubens), vai para a connarrapada. Talvez no Inverno mude de ideias.

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