Gazeta Inútil
A nossa civilização não herdou da Grécia Antiga apenas a filosofia, os jogos olímpicos e o hexâmetro dactílico. Quando vemos celebridades a posar para fotógrafos antes de uma cerimónia convém lembrar que também a passadeira vermelha remonta a essa época. É na tragédia de Ésquilo, Agamémnon, que encontramos a primeira referência literária ao artefacto. Convidado pela mulher, Clitemnestra, a caminhar sobre uma passadeira vermelha no regresso a casa, Agamémnon recusa com a habitual desculpa entre os gregos para não fazer alguma coisa: o receio de despertar a fúria dos deuses. Depois, esquece-se desse pormenor e é assassinado pela mulher, desfecho quase tão cruel como ver o discurso de agradecimento interrompido por uma orquestra. No início do século XX, a empresa de transporte ferroviário New York Central começou a utilizar uma passadeira vermelha para encaminhar os passageiros para o seu comboio mais famoso, o 20th Century Limited. Muito avançados para a época, os revisores enumeravam os serviços que os passageiros tinham ao dispor, liam excertos das tragédias de Ésquilo e avisavam os cavalheiros que qualquer tentativa de invadir Tróia com um cavalo de ferro seria considerada extremamente idiota. Não querendo menosprezar a cultura geral dos organizadores de galas e outras cerimónias oficiais, creio que a inspiração da passadeira vermelha terá sido mais ferroviária do que trágica.