Últimos pedidos
Fui vê-lo ao hospital dias antes de ele morrer. Tinha a barba por fazer. Pediu-me que lhe levasse a gilette e lhe fizesse a barba. Enquanto me pedia isto, os olhos de animal assustado cravados na parede creme, cagou-se todo: “ai, filho, chama aí alguém.” Vieram as enfermeiras, “tenha calma, senhor João”, mudaram-lhe as fraldas e a roupa da cama e uns minutos depois, já sossegado, pediu-me novamente que lhe levasse a gilette. No dia seguinte, não fui ao hospital. O meu avô morreu nessa noite. Uma das enfermeiras fizera-lhe a barba de manhã.