Hiroshima, meu amor
Há dias, passei em frente da casa de uma antiga colega da escola secundária. Presumo que já não viva ali. Há uns anos, vi pendurada numa janela uma dessas placas das imobiliárias. Era uma rapariga tímida, timidez que, porém, só consumia uma parte do seu encanto. Éramos próximos, mas não íntimos. Uma vez, já perdi a conta aos anos, convidei-a para irmos ao cinema. Hiroshima, meu amor. Nunca beijei esta rapariga, nunca fizemos amor, nunca nada. Mas eu vi no olhar dela, à saída da sala, aquele brilho baço que só desce sobre as mulheres depois de um orgasmo. Estava perturbada, isso sei, e penso que me perguntou porque é que a tinha convidado para ver aquele filme. Porquê? Queria que ela me amasse? Não sei. Queria marcá-la, queria que o corpo dela estremecesse e os pensamentos explodissem e o coração batesse à velocidade do cinema, vinte e quatro batimentos por segundo, e queria que ela, por muitos homens que viesse a conhecer, nunca mais esquecesse aquela noite. E, afinal, tantos anos depois, a única certeza é a de que eu não me esqueci. Tudo é vaidade.